sábado, 24 de janeiro de 2009

8 comentários:

  1. poema um

    no escuro do quarto
    o terço de minha mãe dependurado
    em meu claro sonho de menino
    desmanchado pelo tempo.


    ERNÂNI GETIRANA

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  2. ao poeta

    em tuas mãos guerreiras
    a sentença errante de um sol enjaulado pulsa
    e tua espada espectral é uma galáxia de versos
    desferidos contra o oblíquo espaço humano
    onde o poema – campo de combate cotidiano –
    trava consigo uma luta corporal
    na hieroglífica paisagem de signos.

    peregrinos por entre escombros vocabulares
    - anteriores altares de deuses –
    o gesto primitivo, brutal, de tua espada
    r
    o
    m
    p
    e

    o flanco demente
    na margem ígnea de íris perplexas
    onde o real e o sonho ga – lo – pam lado a lado
    sob o mesmo sol domado


    (1º lugar no concurso de poesia da UFPI de 1985)

    ERNÂNI GETIRANA

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  3. EGOSSISTEMA

    no escuro de mim
    é que me perco e me acho:
    boi cego a ruminar estrelas
    vida, meu jogo radical,
    nem tanto ao bem,
    nem tanto ao mal.
    antes eu, de mim mesmo a ferida.

    meu corpo, planeta profano,
    em trânsito pela galáxia de humanos e máquinas.
    eu (perplexo), espelho invertido, convexo
    do mundo que me engasga.

    meu tempo, o tempo que dura a emoção.
    elemento estrábico onde leio remotas notícias de mim.

    sangro dentro da noite
    num monólogo mudo, terminal,
    por entre zonas de sono e silêncio
    onde toda verdade é mentira,
    onde toda mentira é real

    (*) 1º lugar no concurso de poesia da UFPI – 1987.

    ERNÂNI GETIRANA

    ernani_lima@ig.com.br

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  4. SINTÉTICO

    POUCAS PALAVRAS
    SOLTAS

    POUCAS PALAVRAS
    ROUCAS

    POUCAS PALAVRAS
    LOUCAS


    ERNÂNI GETIRANA

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  5. realidade plástica

    sacos ao vento
    homens de plástico confusos, transparentes,
    no lugar do coração o logotipo de alguma multinacional.
    fantasias de carnaval?
    no!
    homens de plástico descrevendo no espaço
    etapas de um lento movimento que parece não ter fim.
    sacos e homens patéticos e um vento apocalíptico soprando.
    vento morno desempregando ex-homens metais.
    homo-faber que mora no ABC e não sabe ler.
    impasse. Grave greve decretada. Paralisação geral.
    à mesa patrões e empregados discutem desejos expostos de importância capital.
    lá fora sacos de plástico vazios, vazios estômagos desse filhos de Adão.
    homens de plástico esmagados ao chão, seus filhos entulhados em barracos,
    pares de olhos que desde cedo focalizam um mundo imundo.
    bocas fechadas ao protesto e à comida, corpos esqueléticos, tentativas de vida,
    em meio a um vôo suicida,
    involuntários Kamikases brasileiros.
    arrastados pelas correntes de vento, esboços de homens desfilam em câmara lenta
    numa melancólica agonia

    (*) 1º lugar no concurso de poesia da UFPI – 1986)



    ERNÂNI GETIRANA

    ernani_lima@ig.com.br

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  6. As poesias acima inovam pelo fato de serem interativas, primando pela 'velocidade', permitindo rápidas leituras e diversas interpretações. Com isto também chamam a atenção do leitor pela forma que são escritas, aguçando assim a vontade de cada vez mais lÊ-las.

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  7. Os poemas acimam primam pela rapidez de comunicação em detrimento da expressão clara de um sentimento ou de um desejo. Trabalham muitas vezes com imagens específicoas ao mesmo tempo em que constroem perante seu interlocutor um sentido definido.

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